domingo, 5 de setembro de 2010

capítulo 1 - André Queirós

fonte da foto: um bacano brasileiro chamado Fernando Araújo, mas não se consegue aceder ao link...

O André dizia-se que tinha enveredado por negócios obscuros embora na realidade não passe de um mero comerciante que tenta sobreviver vendendo peixe congelado. 




Diziam que se drogava quando era adolescente e que tinha violado uma prima, engravidando-a. Foi severamente espancado pela própria família e nunca recuperou por completo desses momentos de loucura. Depois veio-se a provar que era um tio que durante alguns anos tinha abusado dela, os testes de ADN provaram tudo o que havia a provar. Esse tio foi encontrado morto, num recanto sujo, com uma bala na cabeça, e nunca se veio a descobrir o assassino. Mas André já não se conseguia livrar da má fama


Entretanto, fumava os seus charros, participava em alguns pequenos assaltos a residências em Birre, ali para os lados de Cascais. Diz-se, porque nunca se provou nada e para além disso, de que servia essa fama? Para nunca arranjar emprego, para se envolver nos negócios obscuros da prostituição, embora também nunca se tivesse provado nada, por obra de algum espírito santo desencantado não se sabe de onde. A polícia nunca juntou provas para o pôr na choça uma vez que fosse, mas foi-se criando uma áurea de meliante à sua volta que impunha respeito no bairro.




A lenda... qual lenda se o André nem conseguia passar de um Fiat Uno e de viver num apartamento arrendado ali para os lados da Reboleira, na Amadora, num daqueles prédios sujos onde moram oito inquilinos por piso e é usual ver-se nas portas, 'aqui mora preto!'.?!?!



Mas rezava a lenda que afinal tinha um terreno de cem hectares, criação de cavalos, uma Adega e mulheres que nunca mais acabavam. Havia ainda quem dissesse ser ele o justiceiro sem nome que evitava que as meninas desprotegidas fossem violadas na noite escura, que os imigrantes sem papeis fossem levados para a escravatura, que a profunda mentira e hipocrisia que girava em torno do seu nome apenas serviria para o calar, para o matar e fazer regressar a vida à normalidade.


A verdade? Apenas a confusão com um fulano que mais tarde se viria a provar ser o irmão gémeo desaparecido e que mais tarde iria aparecer em circunstâncias sinistras.



André nunca esteve na Reboleira, nem na tal quinta de 100 hectares, vivia apenas na Graça, em Lisboa, num daqueles prédios antigos, em que era uma aventura subir as escadas, como num castelo dos antigos à espera que aparecesse algum mouro para nos cortar as goelas. Não, era apenas um prédio antigo, ainda os carros podiam circular livremente e entupir as ruas, nunca havia lugar para estacionar. A única coisa certa no meio disto tudo era que tinha um dom especial para engatar mulheres, desde as novas às mais maduras. Era charmoso o sacana, e ele sabia o que fazia com elas. Talvez por isso a inveja. Mas também porque era um cantor daquelas músicas lamechas, mesmo xaroposas, ranhosas. Nunca gostei de o ouvir, mas as gajas ficavam histéricas e sexo nunca lhe faltava. No entanto nunca o vi no Top, só a tirar top's, isso sim ele sabia fazer e muito bem, parecia uma romaria de gajas malucas de volta do André, até ao malfadado dia.


- Um maço de tabaco se faz favor!!!


- Sim senhor!
- Porra, tanto tempo, é rica por acaso, já vendeu tudo e eu estou aqui a mais???
- Toma lá pá, não me chateies!!!
- Livro de reclamações e já!!!
- Oh senhor tenha calma, sabe isto é muita coisa ao mesmo tempo!
- Cambada de incompetentes...

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