domingo, 12 de setembro de 2010

Capítulo 6 - A tortura


- Então chamas-te Romão?
- Sim...
- Olha para cima filho da puta! Quando falo contigo olhas para mim!!! Porrada neste! - um polícia com ar de boi enfurecido, berrava! Os outros obedeciam
- Meu Deus!
- Aqui estás fodido, o teu deus sou eu! E eu é que sei o que deves dizer por isso não te desvies! Filho da puta, olha para cima!!! Cabrão de merda que te mato já aqui!
.
O corpo doía-lhe, as dores eram absolutamente lancinantes, apenas lhe apetecia morrer. Não entendia como era possível aquela reviravolta brutal. À espera de uma noite com gajas boas, de sexo a rodos e acabar tudo assim, numa sala obscura. Parecia que viva num cenário daqueles que tinha lido em livros acerca de mentes psicóticas.

Tinha havido uma insurreição. Uma Junta Militar tinha tomado conta do poder, apregoava-se de novo o nome de Salazar nas ruas, a pena de morte tinha sido reinstaurada, as execuções sumárias uma prioridade do novo Executivo. As fronteiras fechadas e ameaças a todos os estrangeiros presentes. Mas naquele momento só lhe interessava sair dali, faria o que fosse preciso, apenas era preciso adivinhar o que aqueles gajos queriam, eles não diziam e isso fazia-o lembrar a velha Inquisição.

Nos momentos de curta solidão, nu, deitado num chão sujo, ouvia gritos de dor lancinante, vindos de si mesmo, como se a alma se tivesse desprendido do corpo

- Não, isso não
- Diz-nos nomes cabrão!
- Eu digo... mas parem com isso, por favor
- Parem... que ele vai falar já a seguir, tem três segundos para começar a falar, um, dois...
- André Queirós, Romão Silva e a família deste também - nunca falou tão rápido na sua vida...
- Eu sabia, ficas na solitária uma semana e depois... pensa bem no que vais ter para me dizer se alguma destas informações for mentira...
- Oh não, protejam-me, sou um homem morto!
- Descansa que tenho bons planos para ti minha puta, o teu alimento vão ser as ratazanas que aparecem pelo ralo do esgoto, tenta sobreviver-lhes - e ria-se, sinistro, aberrante...

e pensava delirar quando ouvia o seu nome, no meio da violência sem sentido, sem que houvesse alguém que a fizesse parar

- Então Romão, ou será Romano, o terrorista?
- O quê?
- Não me chateies merdoso, não mintas, não mintas, já sabemos de tudo
- Não entendo...
- E a Dona Josefina... - o fulano que o ia torturando batia com o bastão nas paredes, cada vez com mais força e resolveu dar-lhe no joelho direito - bem me parecia que és o filho dela!
- Não! Não! A minha mamã não... - o choro tornava-se compulsivo, a fúria cada vez maior -
- Sim, gosto dessa raiva - pisando-lhe a mão - vais precisar dela para viver meu filho da puta...

e lá vinham eles para cima dele, pontapés por todo o lado, choques eléctricos nos orgãos genitais, seria possível descrever maior dor? Pensou no que os levava ali, não sabia o que tinha feito, já tinha visto daquilo em filmes e agora estava ali... estava a ser violentado. Apenas lhe falavam na mãe, isso punha-o louco. Porquê? O que havia de tão importante na sua pessoa para o maltratarem daquela maneira? Puro gozo de violência gratuita? Não percebeu durante muito tempo. 

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