domingo, 24 de outubro de 2010

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Os olhos pedem descanso, mas ao assomar-se à janela, Nacho não pode deixar de ver os seus novos vizinhos, como não deixa de ver qualquer outro vizinho, tão perto se encontra das suas janelas, do seu odor, quase das suas entranhas. Mas estes novos vizinhos têm a beleza estonteante que só se costuma ver nas revistas cor-de-rosa, arautos da perfeita inutilidade que jamais irão à falência antes do colapso da raça humana.

No seu apartamento, pequeno, onde sentado no seu pequeno sofá, quase pode avistar as gotículas de suor do vizinho colombiano, Guillermo, que grita do prazer que lhe dá ser sodomizado pelo amigo equatoriano El Fernandez, famoso violador de homens casados, gordo, de cabelo comprido e com uns brincos ranhosos. Pode ser frequentemente visto na cidade em palestras com jovens que se riem das suas façanhas sexuais, enquanto o furioso enrabador brilha chamando a si todas as atenções. Entretanto o colombiano ajoelha-se e Fernandez começa a gemer.

Nacho telefona à sua amiga Ramona, peruana cujo nome faz lembrar um travesti, mas que afinal é uma mulher, como ele gosta de certificar pelo sabor incrível que apenas numa mulher verdadeira se pode encontrar.

O sexo, seja ele entre seres do mesmo sexo ou o dito normal, apenas o faz sentir um profundo tesão por aquela mulher, casada e mãe de alguns filhos, dona de casa exemplar, amante fogosa que não se esquiva a nada, absolutamente nada. Apenas Nacho se sente meio perdido por voltar a uma femêa que se encanta com coisas que a ele lhe causam asco, mesmo tentando acompanhá-la nas investidas incessantes perpetradas pela sua nova mulher endiabrada. Enquanto isso a ansiada vida normal fica de novo esquecida num  qualquer compartimento da sua mente distorcida.

O pudor que o visita por saber que o marido dela tem uns cornos cada vez maiores, é rapidamente substituído pela sensação animalesca de poder reviver os seus 22 anos, a idade em que deixou de ser selvagem na cama, para tentar ser um homem normal, algo que até à data apenas aparenta ser.

No leitor de cd’s do seu computador tem algumas músicas românticas apropriadas para Ramona, não que ela perceba o seu conteúdo, mas decerto que com a imaginação fogosa que a assalta depressa viverá novos rumos no seu destino, que passa ao lado de Nacho. Mas a sós assimilava as músicas já com alguns anos de DJ Tiesto, considerado o melhor do mundo por uma qualquer revista da especialidade no vetusto ano cristão de 2008.

Em casa apenas costuma ter a companhia de algumas moscas que entram em casa de cada vez que abre a janela, sem cortinas, com vista directa para o novo casal que Nacho anda com vontade de conhecer. Decerto que o passa palavra, próprio da cidade mesquinha onde vive os fará esconderem-se um pouco mais das vistas de gente pervertida, masturbando os sexos enquanto ejaculam sentenças sobre aqueles filhos da puta do segundo andar que gemem que se desunham, e que por vezes se assomam à janela, aumentando o odor a sexo que pulula nesta rua.

Quando Ramona chega é hora de deixar o que quer que seja de lado que apenas se vai competir com o novo casal da frente. A diferença reside na discrição de Nacho que, frio como um icebergue, não acarinha o que quer que seja da alma de Ramona, apenas lhe provoca orgasmos com a sua língua selvagem, os seus dedos grandes e leves. Deixa-a de tal forma excitada que ela acaba por acreditar que a sua falta de interesse se deve ao que ele quer que ela acredite que seja verdade. Com o qualquer mulher cega de paixão, ela pensa que o pode mudar, erro repartido por todas as mulheres da vida de Nacho, um rebelde sempre com causas diferentes, porventura incompreendido e sempre com as suas moscas fieis a rondá-lo.

Os olhos pesam e talvez seja hora de dormir, mas Nacho, guarda sempre uns minutos para se masturbar, apenas para que possa corresponder aos infindáveis avanços da sul-americana, que o quer, mas quer tanto que talvez um dia apenas se lembre do seu esperma a sair do nariz e sorria. Ramona é assim e Nacho é-lhe indiferente mas deixa-se estar porque no fundo até gosta tanto como ela.

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